26.11.08

Passou...

Enquanto Melodia cantava "super eu, super eu", comecei a vasculhar meus antigos escritos e, confesso, isso sempre me faz sangrar. Mesmo sabendo que isso vai acontecer, eu vou até o fundo nas minhas dores. Nas alegrias também, óbvio. Afora a ligaçao emocional que tenho com este espaço, tenho aqui o grosso das minhas mais dolorosas liçoes de vida. Perder, ganhar, reinventar, tentar mais uma vez, descobrir, compartir, cantar, dançar, amar. Meus verbos preferidos sempre em constante conjugaçao. Agora é Gal que manda um "e quero que você venha comigo". Será que alguém preparou essa trilha especialmente para este momento? E texto vai, recordaçao vem, percebi que já levamos aqui mais de 3 anos...Realmente surpreendente! Mas isto também me fez pensar nos meus propósitos. Boa parte do que relatei (e vivi) aqui agora já nao tem mais razao de ser. Talvez seja hora de encerrar mais este ciclo...Enquanto a decisao nao vem, Cazuza grita de leve "meu mundo que você nao crê, meus sonhos que você nao vê". Alguém realmente está tentando me dizer algo. Ou serei eu mesmo?

22.11.08

Sunshine

"Nos vemos logo meu amor. E sorria! Sorria porque se você sorri, o sol brilhará mais forte, com certeza."

Depois, as lágrims borraram algumas das últimas imagens, mas ainda assim consegui enxergar, um pouco distante já, duas rodas, uma mochila e um grande amor.

20.11.08

Mares

Para falar bem a verdade eu tinha um pouco de medo. Na verdade nao sei se era medo, mas sim aquele frio na barriga que sempre chega quando estou em uma situaçao que nao depende única e exclusicamente de mim. É que eu tinha meu pai ali, ajudando meu corpo a flutuar onda acima, ensinando-me como nadar. Naquela época meu pai dava de 1000 a zero em qualquer super herói de cueca por cima das calças (hoje...). Aprendi a nadar no mar e ele acabou se tornando um amigo e confidente de grande valia.

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Ah, a paixao...como ela pode ser dura (quando é apenas platônica). Para nao deixar que a dor me devorasse, saía pela praia, recolhendo conchinhas e depois me sentava na amurada para olhar as ondas. O ir e vir delas me trazia idéias, lembranças, ausências. Sofrer de paixao em frente ao mar, na maioria das vezes, é mais que necessário.

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Essa sua vida de praia, eu entendo. Fotos com as amigas, cabelos molhados escorrendo pelas caras de dentes brancos. Nostalgia de uma adolescência que se foi há...enfim, continuo. Entendo porque eu, que nunca havia pensando em morar próxima à praia, agora tenho o mar batendo quase à porta de casa. Pela janela ele entra, nao tenho como evitar e mesmo que pudesse jamais o faria. Junto, entra também o sol e ambos me tiram do cubo de concreto e me jogam na rua, vento na cara, cabelo desgrenhado. Quando vejo, já estou quase tocando a areia. O mar. Os mares. Tudo feito naturalmente, especialmente e afortunadamente só para mim.

15.11.08

Choro

Havia certas manhas em que eu me despertava e entre as névoas do sonho e a percepçao da realidade, enquanto abria os olhos, pelos meus ouvidos entravam sons que eu ia distinguindo pouco a pouco. Cambaleante, saía da cama e procurava a porta para ganhar a luz do amanhecer e, neste trajeto, percebia que alguém já estava suficientemente inspirado para melhorar ainda mais meu dia. Acercando-me da porta de outro quarto, olhava para ele. Sem notar minha presença, continuava a tocar e às vezes a cantar cançoes ora alegres, ora de uma tristeza fina, quase elegante. Muitas daquelas manhas eu fiquei ali, encostada no cantinho da porta para nao ser notada, esfregando os olhos e olhando para ele. E ele olhava para a janela enquanto tocava, como se a luz do sol ou as nuvens de um dia nublado fossem suas mais profundas e verdadeiras inspiraçoes. Quando terminava um tema, solenemente abaixava a cabeça e ficava assim, alguns instantes, como se ouvisse aplausos de uma platéia imaginária. Eu nunca o aplaudia naquelas manhas. Depois, quando também me arrisquei a cantar, formávamos duetos memoráveis (pelo menos para ele e para mim...e quem precisava de mais platéia?). Essa noite fui ver uma apresentaçao de chorinho e senti uma vontade enorme de aplaudir. Aplaudir e abraçar meu músico particular, velho pai.

5.11.08

Chegada

Fazia calor naquela noite de lua cheia, eu me lembro muito bem. Nos encontramos na rua mesmo, conforme o combinado, para tomar umas cervejas na intençao de amansar um pouco a temperatura do corpo. Ele me explicava que havia tardado um pouco porque, no caminho até mim, parou por mais de 10 minutos e ficou olhando a lua crescer no céu. "Sou de câncer, oras", como se eu soubesse muito de astrologia. Das cervejas seguimos para o porto porque ali, com certeza, estaria mais fresquinhos. Encontramos um banco, nos sentamos, mas logo ele quis deitar no meu colo. Enquanto passava os dedos entre seus cabelos, escutava dele que este tipo de carícia provocava nele como "500 milhoes de orgasmos ao mesmo tempo". Claro, depois de 5 anos usando dreads...Depois se levantou, começou a liar un cigarro e falar do mar. No dia seguinte ele partiria e ficaríamos alguns dias sem nos ver. Foi aí, aí mesmo, quando eu olhava aquelas maos liando o cigarro que ele chegou. Como um susto. Um vento frio na espinha. Quando desviei meus olhos das maos dele e mirei nos olhos, já nao havia mais saída. Entre ele e eu agora havia um hóspede. Enfim, o amor.

22.10.08

Quadro

Era o quadro perfeito porque eu mesmo o havia criado, somente para ter a doce ilusao de viver o papel de vítima de longe, como mera espectadora. Se me perguntassem em janeiro, março ou junho deste mesmo 2008 que corre - ou que, para mim, agora voa! - qual havia sido a melhor fase da minha vida até a, eu poderia descrever o quadro neste mesmo instante. Diria todas as frases que o compoem, todas as cores e matizes destas, de que material era feita a moldura. Diria que foi lá pelos idos de 2001, 2002, quando eu ainda rescendia àquele aroma fresco da juventude primeira, dos anos dourados da entrada na maturidade. Diria que justamente aí, entre estes anos, eu havia sido feliz de uma forma que eu queria crer, e até entao verdadeiramente creía, que nunca mais voltaria a ser. Eu cursava a faculdade que escolhi, tinha o emprego dos sonhos para um jovem profissional da minha área e ainda estava ao lado dele. Dele que era descrito como o homem da minha vida, aquele príncipe encantado moderno, que havia chegado em um carro velho e de cabelo cumprido. Era nisso que eu acreditava, tornando a minha própria vida, desde entao, totalmente desprovida de oportunidades de ser novamente, completamente, feliz. Penso que muito disto se deve ao eterno complexo feminino de nao suportar a felicidade plena por muito tempo ou por mais de uma vez. Que esta deve ser apenas uma coisa para se provar uma só vez, mas que nao é feita para perdurar. Foi entao quando me movi, desde dentro para fora, vindo dar neste lugar, tao distante de tudo e de todos que até entao estavam em volta desde quadro, que descobri o que realmente me trouxe para tao longe. Foi a simples suspeita (ou quase certeza) que somente as grandes distancias - sejam elas quais forem - sao responsáveis pelas nossas melhores mudanças de vida. Se me perguntassem agora qual foi a melhor época da minha vida eu, de sorriso largo, olhos brilhantes e coraçao tranquilo, diria que esta época é agora. Que o melhor momento da nossa vida é o presente, e que tudo deve ser exatamente como é. Afinal nao teremos outra chance para fazer o que já foi feito. E que o homem da minha vida é o homem que me faz feliz justamente aqui, neste agora. Agora eu já nao sinto falta de nenhuma pergunta. E muito menos de nenhum quadro.

27.8.08

Peso

Eu já te carreguei de todas as formas. Te carreguei na minha cabeça quando ainda nao sabia que seríamos nós. Te carreguei no meu peito quando, finalmente, éramos amor. Te carreguei no meu ventre, em forma de gozo e em forma de doença. Te carreguei e te ensinei andar também sobre as minhas pernas ligeiras. Te levei nas minhas costas largas, nos meus braços que já queriam abraçar o mundo, nos meus dedos finos de artista inapto. Eu já te carreguei na minha saliva, no meu cheiro...no meu sangue que todo mês se largava um pouco de mim tirando de dentro, também, um pouco de si. Eu já te carreguei na carteira, na bolsa, no porta-moedas quase vazio. Hoje nao te carrego mais. Apenas sei que você já esteve por aqui, em algum lugar de mim.