22.10.08

Quadro

Era o quadro perfeito porque eu mesmo o havia criado, somente para ter a doce ilusao de viver o papel de vítima de longe, como mera espectadora. Se me perguntassem em janeiro, março ou junho deste mesmo 2008 que corre - ou que, para mim, agora voa! - qual havia sido a melhor fase da minha vida até a, eu poderia descrever o quadro neste mesmo instante. Diria todas as frases que o compoem, todas as cores e matizes destas, de que material era feita a moldura. Diria que foi lá pelos idos de 2001, 2002, quando eu ainda rescendia àquele aroma fresco da juventude primeira, dos anos dourados da entrada na maturidade. Diria que justamente aí, entre estes anos, eu havia sido feliz de uma forma que eu queria crer, e até entao verdadeiramente creía, que nunca mais voltaria a ser. Eu cursava a faculdade que escolhi, tinha o emprego dos sonhos para um jovem profissional da minha área e ainda estava ao lado dele. Dele que era descrito como o homem da minha vida, aquele príncipe encantado moderno, que havia chegado em um carro velho e de cabelo cumprido. Era nisso que eu acreditava, tornando a minha própria vida, desde entao, totalmente desprovida de oportunidades de ser novamente, completamente, feliz. Penso que muito disto se deve ao eterno complexo feminino de nao suportar a felicidade plena por muito tempo ou por mais de uma vez. Que esta deve ser apenas uma coisa para se provar uma só vez, mas que nao é feita para perdurar. Foi entao quando me movi, desde dentro para fora, vindo dar neste lugar, tao distante de tudo e de todos que até entao estavam em volta desde quadro, que descobri o que realmente me trouxe para tao longe. Foi a simples suspeita (ou quase certeza) que somente as grandes distancias - sejam elas quais forem - sao responsáveis pelas nossas melhores mudanças de vida. Se me perguntassem agora qual foi a melhor época da minha vida eu, de sorriso largo, olhos brilhantes e coraçao tranquilo, diria que esta época é agora. Que o melhor momento da nossa vida é o presente, e que tudo deve ser exatamente como é. Afinal nao teremos outra chance para fazer o que já foi feito. E que o homem da minha vida é o homem que me faz feliz justamente aqui, neste agora. Agora eu já nao sinto falta de nenhuma pergunta. E muito menos de nenhum quadro.

Um comentário:

J.F. de Souza disse...

Maia qrida! Perfeito!

Eu sempre soube:
Se eu fujo pra bem longe
onde meu rastro se perca
Tudo e todos
se perderão de mim
Tudo que ficou pra trás
se perderá
Meu elo se desfará

É... As distâncias
geográficas
mudam vidas