1.6.08

Início

Dizem que, com o tempo, tendemos a esquecer momentos desagradáveis em relações e relacionamentos e preservar apenas as boas recordações. Pode ser. Aliás, é bem verdade. Mas também é verdade que algo desencadeia uma série de lembranças que ficaram há muito esquecidas. "O que vamos fazer hoje?", perguntava ele; "Quero sair, ver gente", era quase sempre a minha resposta. Estava cansada daquele namoro eu-e-você-você-e-eu, nós quatro. Sempre que me era dada a oportunidade de escolher o que fazer eu queria ver o mundo, estar com pessoas por perto, vê-las conversando animadamente, comendo, bebendo, curtindo uma noite agradável ao lado de amigos ou pares e afins. Quase nunca ele optavapor esses programas. Sempre foi a favor do "em casa é sempre mais gostoso". No auge dos meus vinte anos ficar em casa era tudo que eu não queria. Sentia-me por vezes presa, por vezes forçando algo que não era da vontade dele, ou mesmo, às vezes, me sentia incumbida da missão de levá-lo ou trazê-lo para fora, tirá-lo do casco. Em represália, em algumas ocasiões, mantinha-se calado, bebendo e olhando para o copo ou ao redor dele, mas não para mim. Doía-me profundamente aquele comportamento. Olhando e relembrando estes momentos, sinto que ali já começava a querer o mundo para mim, por perto, desejava fazer parte dele enquanto ser pulsante que era e que sou. A companhia já não se encontra mais, talvez felizmente. Mas a vontade de estar no mundo, solta, aumentou, e a cada dia gera nosos frutos. Sinto-me feliz de ter, nem que por poucos anos, levado um pouco mais de vida a ele. Esteja ele onde estiver.

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi querida!
Vc sempre com essa vontade louca e contagiante de viver! Que coisa boa ... pena que nem todos sejam assim.... azar deles. Te amo.

bjs

Édnei Pedroso disse...

O chapéu serve pra uns. A caravana passa pra todos. Queria, um dia, encontrar o meio-termo das coisas.

Beijos.

Anônimo disse...

Bonita crônica.

Anônimo disse...

Pessoas assim, com tanta vida por dentro, sempre tocam a vida do outro, mesmo quando o outro nem percebe!
Beijo!