Era tarde da noite. Eu, naquele terminal de ônibus quase deserto, só pensava em pegar o primeiro ônibus que aparecesse e chegar logo em casa. Havia sido um dia longo, o mau humor me consumia e o frio também. Saíra de casa desprevenida de agasalho. Quando o coletivo chegou, sentei-me em um dos bancos em que se pode olhar pela janela e fiquei viajando em pensamentos. Um rapaz alto, bonito à beça, passou por mim e sentou-se duas fileiras à frente. Fiquei olhando a nuca, bem desenhada, os cabelos sedosos e de repente ele ficou de lado, como se para olhar quem ainda iria entrar. Trocamos alguns olhares. Quando o ônibus se aproximava do ponto em que eu desceria, peguei um de meus cartões pessoais, entreguei a ele e disse, apenas: “liga pra mim”. Ele ligou, mas a vontade havia ido embora, junto com o ônibus que o levava adiante.
...
Sentei no banco reservado aos idosos, ciente de que assim que um velhinho ou velhinha entrasse eu teria de levantar. Tudo bem. Eu queria apenas sentar-me para ler em paz. Ler em pé me dá enjôo. Sentei ao lado de um rapaz cheiroso, bem branquinho. Percebi que me olhava de esguelha e comecei a sorrir por dentro. De braços cruzados, sutilmente, uma das mãos encostava e afagava meu braço direito. Não fiz menção de me afastar e nem ele. Continuou a olhar-me e eu a sorrir. Pouco depois pediu licença para levantar-se. E foi-se.
Nunca esperar dos outros mais do que eles podem oferecer. Sábia lição.
30.3.06
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3 comentários:
filosofia de busão... sofia e filó de blusão... lá se foi o blues... sei lá do tesão...
e muitas vezes o pouco é tanto...
As oportunidades sempre surgem dos lugares mais estranhos!
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