19.10.05

Consolação

Naqueles dias, a melancolia se fez senhora de mim. Uma dor fina e constante pairava em meu ser, liquidando meu peito. Por mais que eu tivesse argumentos para contorná-la, meu íntimo se tornara surdo para tais explicações. Ele queria mesmo era se manter naquele estado cinzento. Durante dias chorava em qualquer parte. A caminho do trabalho, em casa, em frente ao monitor. Quando acontecia de as lágrimas se precipitarem das órbitas durante o banho, era como se elas, e não a água que vinha do chuveiro, me lavassem. Vinha naquela terça-feira mais triste ainda, chorando ainda mais dolorosamente. Pela fortaleza que gostaria de ser e não consigo, pelos filhos que (ainda) não tive, pelos amores desprezados. Meu novo (?) bem-querer rondava meus pensamentos e poderia até dizer que era ele a razão de tantos ais. Mas na verdade, ele nunca foi motivo de tristeza. De repente, um telefonema. Estava ele a pensar em mim. Chorei ao ouvir a voz cálida do outro lado da linha. Como não poderia ter o corpo ao alcance, consolei-me com uma barra de chocolate e dois dedos na vagina.

Um comentário:

Anônimo disse...

Verdadeiramente surpreendente e desconcertante passear por entre seus prazeres e suas dores... me senti nas suas entranhas, e me pego a perguntar o motivo de não termos nos encontrado por dentro, quando muitas vezes nos encontramos por fora... Mistérios do Sem Fim!

Vôo!