8.11.05

Meu velho

Pegou-me pela cintura, delicadamente, e sentou-me sobre um dos joelhos. Enquanto dedilhava canções infantis em seu violão, dizia baixinho, ao pé do meu ouvido, que eu era afinada, que tinha que treinar mais. Meu irmão, que também participava da cantoria, nunca soube o que cochichávamos. Melhor assim. Depois, ele me levava até a cama, deitava-se, comigo de um lado e meu irmão do outro, e contava histórias mirabolantes. Nunca encontrei tais histórias em livros ou outras publicações. Era tudo obra da cabecinha dele. Um dia, quando ele estava prestes a completou 58 anos, escrevi uma carta. Lembrei-me de agradecer por tudo, inclusive pelos ralhos e surras, fiz com que recordasse passagens importantes de nossa convivência, pedi perdão pelas agressões. O sol brilhava forte e o clima era de festa. Mas ao ler aquelas linhas, vi que lágrimas se formavam e rolavam, sem cessar, pela face do velho. Nos abraçamos, emocionados. Nunca, em toda minha vida, vi um homem chorar como meu pai naquela tarde de sábado.

Um comentário:

Anônimo disse...

meu pai era um tipo durão... até que sofreu uma cirurgia e quase morreu...
então teve a revelação: a vida é muito, muito frágil!
depois disso, se libertou!
hoje é feliz, e de vez em quando até arrisca uns abraços...