24.8.08

Branco

Olhando agora, justamente para estas lembranças antigas, percebo que os anos que se passaram entre o ontem e o hoje cobriram de poeira muitas passagens doces e doídas daquela jornada. Não era sem dor que eu coloca os olhos nas fotos que mostravam momentos marcantes da vida dele. "Eu deveria estar ali", pensava. Onde eu estava, então? No meu modo pequeno de ver as coisas eu deveria ter estado ao lado dele desde sempre. Por isso me ressentia ao ver outro sorriso brilhando nos retratos, junto a ele, que não o meu. Torturava-me compondo todas as cenas de antes, durante e depois daqueles flashes. Como se a minha vida e meus acontecimentos não valessem de nada e que a única coisa que realmente importasse fosse a pergunta: onde eu estava que não ali? Foram duras as noites e pesadas as tardes em que me consumi nesse absurdo. Primavera, verão, outono e inverno se sobrepuseram desde então e me encontrei, numa tarde dessas, novamente olhando fotos. A cada nova imagem que aparecia a minha frente, uma nova história e um novo pequeno mundo se avizinhava. Escutei maravilhada cada vírgula e consegui enxergar mais cor em cada pose. Em momento nenhum senti vontade de ter estado em alguma daquelas ocasiões. O que me realmente me encheu de alegria foi saber, institivamente, que ainda tenho umas boas páginas em branco do livro da Vida para preencher. Com fotos e tudo o mais que eu assim quiser.

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