Descobrindo

Quis o destino, essa criança risonha e por vezes irresponsável, que nos cruzássemos numa noite dessas, que bem poderíamos chamar de "ao acaso", mas que basta passarem os dias para que se mostre tudo, menos aleatória, sem conexão com o restante de nossa vida, da passada e da que virá. Fomos apresentados por uma amiga em comum. A conversa veio fácil e já ela não seria preciso já que poros, olhos, trejeitos e odores nos desmascarassem, se esta fosse a intenção de alguma das partes. Logo que entendi que não. Ele namorava, eu estava à toa, à toda. O desejo comum foi saciado pouco tempo depois quando eu, estasiada por tudo, descobri fascinada que o gozo poderia ser-me dado por outro macho que não aquele a quem tanto tempo eu julgava ser o derradeiro provedor do amor completo. Não havia amor e nem ele foi preciso ou nos fez falta, que o gozo não precisa de preceitos. E como gozamos naquela e nas outras noites em que deixamos, alucinados, que nossa libido fosse loucamente saciada madrugada adentro. Mais quetudo, e antes mesmo disto, éramos cúmplices. Mas os homens, ó cabeças sem governo, que perdem os juízos à primeira vista de um poço de orgasmos sem fim. Desisti de tê-lo como provedor deste sexo dos deuses pois antes ele sem mim do que eu sem sossego. E no íntimo trazia a certeza, maior que contrariedade por ter de tomar tal decisão, de que como ele e o do pensamento anterior, muitos outros haveriam de aindas aciar-me o corpo. A alma, por hora, adormecia...